Tipos de Cerveja
As Ale
São várias as classificações que se podem escolher para
diferenciar os diferentes tipos de cervejas. Há quem prefira classificá-las pelo
tipo de fermentação, sendo que, deste modo, se formam dois grandes grupos: as
Ale (cervejas de alta fermentação ou fermentação no alto) e as Lager (cervejas
de baixa fermentação). É claro que dentro de cada um destes grupos há muitos
subgrupos, havendo mesmo algumas cervejas que não se encaixam bem quer num, quer
noutro grupo.
Outros itens que permitem classificar as cervejas podem
ser: a sua cor (clara ou escura); o teor alcoólico (sem álcool, de baixo, médio
ou alto teor alcoólico); ou ainda o teor do extrato primitivo, sendo que neste
caso as podemos dividir em fracas, normais, extras e fortes.
Por ser a mais difundida e por nos parecer a mais
correcta, adoptaremos a divisão que habitualmente é feita tendo por base o
processo de fermentação. Assim sendo, falaremos das Ale, das Lager e criaremos
um terceiro e quarto grupos a que chamaremos de Cervejas Especiais e Cervejas
Excêntricas. Estas últimas podem-se enquadrar em qualquer uma das anteriores categorias, mas preferimos
separá-las por possuírem características específicas como, por exemplo, um
fermento exclusivo ou serem produzidas numa altura específica do ano, entre
outras pequenas grandes diferenças. Não abrangendo todos os estilos possíveis, o
diagrama
abaixo dá uma boa
ideia da divisão que aqui referimos.
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Comecemos pois pelas cervejas do tipo Ale. Como
referimos, o que difere basicamente uma cerveja Ale de uma Lager é o processo de
fermentação – alta na Ale e baixa, na Lager. No caso das Ale, a fermentação
dá-se num ambiente de temperatura relativamente alta, entre 15º a 24º ou mesmo
mais, e isto num período de tempo curto, que rondará os três a cinco dias. Na
fase de alta fermentação a levedura sobe à superfície, sendo que o tipo de
levedura utilizada é a Saccharomyces cerevisiae. Este processo é o mais antigo,
daí que as cervejas do tipo Ale fossem as únicas disponíveis até meados do
século XIX, altura em que foi inventada a baixa fermentação.
Este processo de alta fermentação ou fermentação a quente,
realça os sabores mais complexos, frutados e lupulados da cerveja. São pois, em
geral, cervejas mais encorpadas e vigorosas sendo que, apesar disso, podem
variar muito de uma marca para outra, com características que vão desde o doce
ao amargo e das claras às escuras.
Pelo que atrás ficou dito, não é de estranhar que dentro das Ale surjam muitas
variações das quais podemos destacar: as Barley Wine; as Bitter; as Blonde Ale;
as Brown Ale; as Indian Pale Ale; as Mild Ale; as Pale Ale; as Porter; as
Scottish Ale e as Strong Ale. Outros tipos existirão mas estes são os mais
comuns e os mais consumidos.
De um modo mais específico,
podemos pois considerar os seguintes tipos (clique nas imagens se quiser ver as
fotos em tamanho maior):






















As Lager
As Lager são o tipo de cerveja mais comum,
quer em Portugal, quer no resto do mundo. Tal não que dizer que sejam o melhor
estilo: isso depende muito do gosto de cada pessoa e da facilidade com que se
tem acesso a outros tipos de cerveja. Analisando o que se passa no nosso país,
verificamos que cerca de 75% das cervejas à venda são do estilo Lager e que
estas representam, aproximadamente, 90% do total de vendas. De facto, Lager era
o termo usado para descrever cervejas de fermentação em baixo, quer alemãs, quer
checas, apesar destas últimas serem mais conhecidas por Pilsener. A palavra
deriva do alemão lagern que significa algo como armazenar. Este termo
referia-se ao hábito que se tinha de armazenar este tipo de cervejas em locais
onde a temperatura era muito baixa e isto por longos períodos de tempo, antes de
se passar à fase de consumo propriamente dita.
As suas origens remontam à
Baviera do século XIX, local onde os mestres cervejeiros tinham por hábito guardar os seus
produtos em caves muito frias de modo a lhe darem uma certa maturação. Esses
produtos, as Lagerbier, eram o resultado de anos de desenvolvimento de técnicas
de refrigeração e de utilização de um fermento especial. A principal diferença
desse fermento para o que se utilizava no resto da Europa residia no facto de o
seu depósito ficar no fundo após a fermentação, ao contrário das Ale, cujo
resíduo subia ao topo.
O desenvolvimento das Lager teve um grande
impulso entre os anos de 1820 a 1830, altura em que Gabriel Sedlmayr II the
Younger, familiar dos donos da Cervejeira
Spaten,
viajou pela Europa à procura de técnicas que lhe permitissem desenvolver os seus
dotes de cervejeiro. Ao regressar dessa viagem, ele usou os seus novos
conhecimentos para criar uma Lager mais consistente e estável. Apesar disso, as
Lager desse período ainda eram bem diferentes do produto que conhecemos hoje em
dia, muito por causa da água de Munique, que fazia com que as cervejas ficassem
escuras e "pesadas". Não restem no entanto dúvidas que os progressos de Sedlmayr
foram importantíssimos e tal facto é facilmente perceptível ao verificarmos que
a receita que ele desenvolveu se espalhou rapidamente por toda a Europa. Como
exemplo, refira-se que o seu amigo Anton Dreher utilizou a nova técnica para
melhorar a cerveja Vienense, já que a água da capital austríaca permitia o uso
de um malte mais suave, o que dava à cerveja uma característica cor
âmbar-vermelha.
A nova receita também chegou à Boémia, onde a técnica foi
aperfeiçoada. No ano de 1842, na cidade de
Plzen,
Josef Groll, jovem originário
da Baviera, utilizou um malte diferente do habitual que, em combinação com a
água muito leve da localidade, deu origem a uma cerveja cor de ouro e muito
clara. Esta experiência daria origem à Pilsener ou Pilsner, estilo que
rapidamente se espalhou com grande sucesso pela Europa. Actualmente, a Pilsener
é uma cerveja clara, com um volume pronunciado de gás, sabor a lúpulo e uma
percentagem de álcool que varia entre 3 a 6%. A
Pilsner Urquell (Pilsener Original) é o exemplo típico de uma cerveja
Pilsener. A maior parte das Lager actuais baseiam-se neste estilo, apesar de
terem perdido muito da sua característica acidez.

De um modo mais específico,
podemos pois considerar os seguintes tipos
(clique nas imagens se quiser ver as fotos
em tamanho maior):


Bock - As origens da Bock encontram-se envoltas em grandes
dúvidas. Uma das justificações que se encontrou para o surgimento deste
estilo, prende-se com as prácticas ancestrais dos mosteiros medievais
germânicos, locais onde se
produzia uma cerveja forte e nutritiva que ajudava os
monges a suportar os períodos de jejum, já que durante essas
épocas apenas seria
proibido ingerir comida sólida. Relativamente ao nome, alguns teóricos acreditam
que a palvra Bock é apenas a abreviatura de Einbeck, donde teria surgido Beck e,
mais tarde, Bock. Outros preferem optar por uma explicação mais mitológica e
antiga, referindo que certos povos, procurando o auxílio e a protecção dos
deuses, produziam a sua cerveja apenas durante o signo do Capricórnio, um género
de cabra. Ora como cabra em alemão se diz Bock.... Deixamos ao seu critério qual
a explicação que melhor assenta a este tipo de cerveja. Quanto à cerveja na
actualidade, é substancialmente mais forte do que uma lager, mais robusta, com
uma maior presença de malte e mais escura, podendo chegar a tonalidades
castanhas. O volume de álcool varia entre 5,5% e 7,5%, sendo que o grande
destaque vai para a sua suavidade, transmitida não só pelo malte como também
pelo facto de estagiar alguns meses antes de ser consumida. A experimentar:
Utrechts Bok;
Chouffe Bok 666;
Brasal Bock.

Bohemian Pilsner - A origem deste tipo de cerveja é de simples percepção se
atendermos ao seu nome. De facto, a velha cidade de
Plzen (ou Pilsen) na actual
República Checa, é o berço desta cerveja suave e fresca. As Pilsener (ou
Pilsner, ambas as designações estão correctas) foram inicialmente elaboradas por
guildas de produtores de cerveja daquela cidade da Boémia, isto por volta do ano
de 1840. Actualmente, caracterizam-se por ter uma cor amarela clara a
dourada, bastante límpida, algo amarga devido ao intenso uso de lúpulo e com
aroma e sabor algo frutados ou mesmo florais. Secas no palato e extremamente
refrescantes, têm um volume de álcool que varia entre os 4,5 e os 5,5%.
É, sem dúvida, um dos
estilos mais conhecidos e consumidos do mundo. A experimentar:
Pilsner Urquell;
Budweiser
Budvar;
Starobrno.

California Common/Steam Beer - Este tipo de lager 100% americana é, em geral, produzida
com um tipo especial de fermento que consegue
melhores resultados a temperaturas
mais mornas do que o habitual para uma lager. Esse método teve origem no século
XIX, na Califórnia, onde a refrigeração ainda era um luxo. Deste modo, os
agricultores utilizavam fermento típico de lagers mas a uma temperatura mais
própria para ales, o que lhe dá um carácter singular, com a sua leveza
característica das lagers e um paladar a frutas a tender para as ale. A Anchor
Brewing Co. registou o termo Steam Beer, pelo que, em geral, todas as outras marcas são
referidas como California Common. A experimentar:
Anchor
Steam Beer;
Park City Steamer;
New England Atlantic Amber.


Doppelbock -
Também
conhecidas por Double Bock, são
uma subcategoria das Bock, mais fortes e ricas, caracterizadas por um
intenso
sabor a malte, que lhes dá um aroma e sabor algo adocicados, sendo esse factor
contrabalançado com o uso de lúpulo para lhes dar um toque final azedo. A cor
pode variar do âmbar até ao castanho-escuro e o nível de álcool é, em geral,
elevado, variando entre os 7-8%. As Doppelbock tiveram origem no mosteiro
Paulaner, em Munique, como forma de complemento para as refeições dos monges. A
maior parte dos exemplos Bávaros deste tipo de cerveja acabam no sufixo -ator,
em referência à primeira cerveja do género posta a circular comercialmente, a
Salvator, produzida pelos monges Paulaner. A experimentar:
Ayinger Celebrator Doppelbock;
Fish Tale Detonator Doppelbock;
Augustiner Maximator.

Dortmunder/Helles - Estes dois estilos estão bastante relacionados e
próximos,
sendo que o primeiro é originário da região de Dortmund, enquanto o último é da
Baviera. Ambos são ligeiramente mais fortes do que uma tradicional lager
(5,0%-5,6% ABV), têm boa presença de malte e, os melhores exemplos, destacam-se
por evidenciarem um sabor a biscoitos, devido ao malte utilizado. São cervejas
leves e de fácil ingestão, apesar de algumas Dortmunder da Dinamarca e Holanda
serem mais encorpadas e alcoólicas. O carácter amargo é muito similar
ao das
Pilsner alemãs, aromático e seco. A experimentar:
Great Lakes Dortmunder Gold;
Burgerbrau Wolnzacher Hell Naturtrub;
Aqula Helles.



European Strong Lager - A maior parte das cervejeiras do mundo
produz uma cerveja
mais forte e alcoólica, baseada na sua lager normal. O efeito pretendido é
obtido através do aumento da quantidade de malte utilizado e do álcool, o que,
por outro lado, reduz a presença do lúpulo no aroma e no sabor. São facilmente
distinguidas das Malt Liquors pois estas são apenas elaboradas com malte, o que
lhes dá um toque mais acentuado a este cereal. As European Strong Lager são
bastante comuns e é um estilo que se encontra em franco crescimento. A
experimentar:
Carlsberg Elephant;
Clipper City Heavy Seas Small Craft Warning;
Tuborg
Royal Danish Strong Beer (engarrafada pela Unicer sob licença da Tuborg).


Landbier/Zwickel/Keller -
Três estilos bastante relacionados, raros, antigos, únicos
e típicos da Alemanha. As Kellerbiers são cervejas não filtradas e não
pasteurizadas, utilizando técnicas de produção que se
mantêm desde a Idade
Média. O produto final é suave, naturalmente opaco e com alto teor de vitaminas,
fruto dos fermentos presentes na sua elaboração. O sabor amargo transmitido pelo
lúpulo pode ser elevado, sendo talvez essa a grande diferença para as Zwickel
Bier, que são mais suaves e têm um sabor menos pronunciado. Quanto às Landbier,
a sua maior qualidade é um sabor a malte mais profundo, apesar de também sofrer
da falta de gás característica dos dois estilos atrás referidos. É de realçar
que o gás destas cervejas é natural, surgindo durante o processo de fermentação.
Finamente, acrescente-se que as Landbier podem ser filtradas. Em qualquer um dos
estilos, o teor alcoólico não é muito elevado variando entre os 4% e os 7% ABV.
A experimentar:
Griess Kellerbier;
Fursten Zwickel;
Echt Veldensteiner Landbier.


Pale Lager - Estamos perante o estilo mais mal-amado dos conhecedores
de cerveja e não sem uma certa razão! As Pale Lager são o estilo de cerveja mais
popular e consumido no mundo, sendo que a maior parte das cervejas deste tipo se
baseiam nos três exemplos clássicos deste género: a Carlsberg, a Heineken e a
Budweiser. A sua cor é, habitualmente, amarela clara e muito transparente, com
alto teor de
gás e uma percentagem de álcool que varia entre
os 4% e os 6%. A
presença de malte ou cevada é quase nula quer no aroma, quer no sabor, havendo
algumas notas de lúpulo que lhe dão o característico sabor amargo e por vezes,
também de milho. Estas cervejas são feitas para agradar a um número máximo de
consumidores e por isso tentam não ter sabores muito intensos. A sua produção é
industrial e por isso é usual encontrarmos alguma artificialidade em certos
produtos, muito aguados e sem características que os diferenciem de centenas de
outras Pale Lagers que se produzem por esse mundo fora. Se quiser experimentar
este estilo não é preciso ir muito longe: a Sagres e a Super Bock fazem parte
deste lote de cervejas. Felizmente e, na minha opinião, que confesso poder ser
parcial devido a ser português, são das melhores cervejas que bebi dentro do
género: frescas, leves e suficientemente saborosas para acompanhar uma refeição,
uns salgados ou simplesmente para serem bebidas quando estamos na praia, na
esplanada ou quando saimos à noite. A experimentar:
Summerfest;
O.K. Beer;
Sagres;
Super
Bock.


Premium Lager -
As Premium Lager situam-se entre as Pale Lager
comerciais
e as Pilsener. Sendo esta diferença muito ténue, é habitual certas cervejas
auto-intitularem-se Premium Lagers mas, de facto, não o serem. As que o são, têm
cor dourada ou mesmo acobreada e possuem um forte carácter dado pelo malte e
pelo lúpulo. O álcool costuma variar entre 4,5% e 5,5% e têm menos gás do que
uma pale lager ou do que uma pilsener germânica clássica. É, em geral, um
produto típico de pequenas industrias cervejeiras ou mesmo de pubs e bares que
produzem as sua próprias bebidas. A experimentar:
Spaten
Premium Lager;
Boulevard Bobs 47 Munich-Style Lager;
Creemore Springs Premium Lager.

Rauchbier - Estilo com bastantes tradições na Alemanha, as suas
origens remontam ao início do século XVI, altura em que começaram a ser
produzidos os primeiros exemplares na região de Bamberg. É uma cerveja escura,
com grandes semelhanças com as Oktoberfest/Marzen. Essa tonalidade é-lhe
transmitida pelo malte, que sofre um processo de transformação ao ser colocado
junto a lareiras para ficar com um sabor fumado (rauch é a palavra alemã para
fumado). O uso deste ingrediente dá um sabor muito característico à cerveja,
semelhante a carne fumada e com notas de especiarias. O volume de álcool varia
entre os 4% e os 7%. A experimentar:
Aecht Schelenkerla Rauchbier Marzen;
Triumph Rauchbier;
Spezial Rauchbier Lager.

Schwarzbier -
Esta palavra significa em alemão cerveja preta.
Simplesmente. Não tem nenhuma conotação com a cerveja ser encorpada, leve ou
complexa, apesar da tendência ser para exemplares que não dependem tanto do
malte como as Stout e as Porter, havendo portanto lugar ao aparecimento do sabor
do lúpulo, o que lhes dá um certo carácter amargo, não presente nos outros dois
estilos referidos. São uma excelente escolha para os dias frios, já que são
cervejas suficientemente complexas, saborosas e encorpadas para aquecer qualquer
alma e isto sem o carácter pujante e por vezes sobredimensionado presente nas
Porter e nas Stouts. A experimentar:
Sprecher Black Bavarian;
Herold Cerny Lezak;
Kulmbacher Monchshof Shwarzbier.



Cervejas Especiais
Há, nas milhares de marcas que existem no
mercado, algumas cervejas que podemos designar por especiais. E se é verdade que
todas as cervejas são especiais, também não é mentira dizer-se que há umas mais
especiais do que as outras. É dessas que falamos aqui. A maior parte delas não
são típicas cervejas do dia-a-dia e muito dificilmente teremos capacidade ou
mesmo vontade para beber duas, três ou quatro seguidas, como fazemos com as
nossas imperiais. O seu sabor intenso e a forte presença de álcool aconselham a
que sejam bebidas com moderação e de modo a podermos usufruir de todas as suas
qualidades. São o caso das Abbey Dubbel ou Tripel, das Belgian Strong Ale ou das
Imperial Stout. As restantes estão incluídas neste grupo devido ao seu processo
de fabrico ser diferente do normal (Ice Beer ou Low-Alcohol) ou por terem
ingredientes específicos próprios daquele género (Belgian Witbier ou Berliner
Weisse).

Abbey Dubbel -
A
Dubbel é uma cerveja escura, muito rica em malte e
medianamente alcoólica, já
que não costumam ultrapassar os 9% ABV. Menos frutada que a Belgian Strong Dark
Ale, possui, em contraparida, corpo complexo e uma boa presença de gás. Tal como
o nome indica, são cervejas feitas seguindo a tradição de abadias e mosteiros,
apesar de haver na actualidade muitas fábricas que tentam imitar essas
características com algum sucesso. Acompanham bem queijos, chocolates, bifes e
caça. A experimentar:
Corsendonk Pater (Abbey Brown Ale);
St. Feuillien Brune;
Westmalle Dubbel.

Abbey Tripel -
A expressão Tripel ou Triple refere-se a uma parte do
processo de fabricação da cerveja no qual o mestre cervejeiro utiliza,
aproximadamente, três vezes mais malte do que uma cervaja trapista "simples".
Tradicionalmente, são de cor amarelo-claro a dourado, isto é, l
igeiramente mais
escuras do que uma pilsner. A espuma
deverá ser grande, densa e cremosa e o
volume de álcool oscilará entre os 8 e os 12% ABV. O aroma e o sabor são
complexos, com forte presença de frutos, especiarias e álcool. Têm um carácter
ligeiramente adocicado que lhes é dado não só pelo álcool, como também pela
adição de pequenas quantidades de açucar. Apesar disso, são cervejas muito bem
equilibradas devido ao uso criterioso de lúpulo e de fermento. Este é um estilo
que aprecio particularmente, até mesmo quando comparado com as Dubbels. No
entanto, gostaria de destacar que é preciso um certo cuidado ao beber cervejas
deste tipo: o seu excepcional sabor e aroma tornam-as extremamente apetecíves e
fáceis de beber. Todavia, não nos devemos esquecer que estamos na presença de
uma bebida que pode ter 12% de volume alcoólico pelo que se aconselha alguma
moderação quando em presença de uma Abbey Tripel. A experimentar:
Tripel Karmeliet;
De Dolle Dulle Teve 10º (Mad Bitch);
St. Feuillien Triple.

Abt/Quadrupel -
Abt ou Quadrupel são os termos utilizados para designar cervejas de abadia ou
trapistas extremamente fortes. O nome Abt foi usado pela primeira vez para
descrever a Westvleteren e a St.
Bernardus, ambas
produzidas pelo mosteiro de St.
Sixtus. Relativamente ao termo Quadrupel, a La Trappe foi a primeira cerveja a
fazer uso dessa expressão. Independentemente destas designações serem
frequentemente utilizadas para designar um só estilo, há ligeiras diferenças
entre elas. De facto, as Abts são mais escuras e mais ricas, com forte presença
de especiarias e frutos. Já as Quads são mais claras tendo, em geral, um sabor
menos frutado e complexo. Em comum, têm o facto de possuírem uma forte presença
de malte e uma baixa presença de lúpulo. De igual modo, o volume alcoólico é
alto em ambos os estilos, ultrapassando com frequência os 10% ABV. A
experimentar:
Westvletern Abt 12;
St.
Bernardus Abt 12;
La
Trappe Quadrupel.
American Wheat - São uma versão americanizada das Hefeweizens
sendo que,
tal como estas, variam do amarelo-claro até ao âmbar-claro. São cervejas leves,
com bom nível de gás e volumosas formações de espuma. Não apresentam um sabor a
fruta - nomeadamente a banana - tão forte como as suas congéneres alemãs, sendo
que por isso o lúpulo ganha um realce suplementar. Em termos alcoólicos, variam
entre os 4,0 e os 7% ABV. São excelentes para acompanhar bifes, queijos e
saladas. A experimentar:
Three Floyds Gumballhead;
Karl Strauss Windansea Wheat Hefeweizen;
Sacramento Hefe Weizen.

Belgian Strong Ale - Belgian Strong Ale é um termo genérico que tanto pode
designar cervejas claras como escuras. Em geral, são produzidas na Bélgica e têm
alto teor de álcool, que pode variar entre os 7 e os 12%.
São cervejas
complexas, fortes, com bom aspecto (em particular a espuma) e muito saborosas.
São igualmente bem equilibradas, já que o elevado teor alcoólico é muito bem
balancado com aromas e sabores a especiarias e frutos. A Duvel, uma marca bem
distribuida e, portanto, existente nalguns supermercados portugueses, é uma
referência neste estilo, pelo que se tiver oportunidade de experimentar, não
hesite. Curiosamente, o nome Duvel - uma referência ao diabo - foi também
imitado por muitas outras marcas surgindo então a Satan, a Judas, a Belzebuth, a
Lucifer, entre outras. A experimentar:
Duvel;
Bush Ambrée;
Affligem Blond.

Belgian Witbier -
Trata-se de um estilo de cerveja bem antigo, com mais de 400 anos de idade e que
quase tinha desaparecido na década de
50 do século passado. Felizmente, a
fábrica Hoegaarden reavivou o estilo, muito por influência de Pierre Celis.
Desde então, a popularidade das Witbiers belgas tem crescido constantemente pelo
que é habitual surgirem com frequência novos produtos no mercado. São de cor
bastante pálida, opacas e bastante refrescantes, característica que lhes são
transmitidas pelo trigo e também pelos sabores a limão e casca de laranja que
costumam apresentar. Sâo excelentes para acompanhar queijos ou mexilhões. As
Witbier são um género frágil e não muito dado a grandes envelhecimentos, pelo
que quanto mais novas e menos manuseadas, melhor. A experimentar:
Hoegaarden White;
Brugs
Tarwebier;
Celis White.

Berliner Weisse - Bastante amargo e com forte sabor a trigo, o estilo
Berliner não é muito alcoólico, apesar de possuir um carácter bem vincado. De
facto, a acidez costuma ser tão alta que é frequente os produtores utilizarem
xaropes de fruta ou outros adoçantes para cortar essa característica. É claro
que os mais puristas preferem beber este estilo ao natural, isto é, sem adição
de açucar ou de qualquer outro produto. Asim tomada, torna-se uma cerveja
complexa, multi-facetada e extremamente refrescante. A experimentar:
Dieu
du Ciel Solstice d'Été aux Framboises;
Schultheiss Berliner Weisse Original;
Berliner Kindl Weisse.

Bière de Champagne/Bière Brut -
Estilo muito recente e bastante interessante, as Bière de
Champagne apresentam um grande potencial
dentro da indústria cervejeira, já que
são produtos da gama elevada, com excelente apresentação e que funcionam como
ponte de ligação entre a cerveja e o champanhe, dando assim origem a um artigo de
luxo. A sua produção iniciou-se na Bélgica país que, de facto, é a origem de
muitos dos melhores estilos de cerveja. São sujeitas a longos processos de
maturação e, algumas, chegam mesmo a ser envelhecidas em caves na região de
Champagne, passando então pelo "methode de champenoise", processo em que o
fermento é removido da garrafa. Muito delicadas, com alto teor de álcool e de
gás, costumam apresentar-se em garrafas idênticas às de champanhe, com rolha,
arame e, por vezes, dentro de caixas. A experimentar:
DeuS (Brut des Flandres);
Malheur Bière Brut (Reserve);
Wieckse Brut.

Dry Stout - É um dos estilos mais comuns de Stouts, sendo muitas vezes
também denominado de Irish Dry Stout. Na maior parte dos casos, são
cervejas
algo leves e menos complexas que outros géneros de Stouts, sendo assim
fabricadas para poderem ser consumidas em massa. Tal como se pode observar num
típico bar irlandês, são servidas de uma forma especial, usando nitrogénio, para
que possam ganhar uma espuma durável e extremamente cremosa. No entanto, tal
retira-lhes algum aroma e sabor, bem como gás. Possuem uma forte presença a
malte torrado e, em menor quantidade, a lúpulo, o que lhes dá uma certa acidez
ao sabor. As marcas mais representativas deste estilo são, sem dúvida, a
Murphy's, a Beamish e a Guinness, apesar de haver excelentes exemplares de Dry
Stouts americanos. A experimentar:
Guinness Draught;
Beamish
Irish Stout;
Murphy's
Irish Stout.

Dunkelweizen -
Variação escura das típicas cervejas de trigo alemãs, as Dunkelweizen mantêm, no
entanto, o característico sabor a banana e
limão, apesar de
também podermos apreciar no palato a
presença de chocolate e de cereais torrados, provenientes da adição de malte
escuro. São cervejas bastante equilibradas, ficando a meio termo entre as
robustas e invernais Weizenbocks e as leves e refrescantes Hefeweizens.
Habitualmente, o teor de álcool varia entre os 4,8 e os 5,6%, sendo que a
quantidade de gás pode ser elevada, ao contrário do carácter amargo que não é
muito substancial. Estas cervejas podem criar algum resíduo, pelo que é
aconselhável rodá-las ligeiramente antes de servir. A experimentar:
Franziskaner Hefe-Weissbier Dunkel;
Victory Sunset Dunkelweizen;
Andechser Dunkles Weissbier.

Foreign Stout -
A expressão Foreign Stout começou a ser utilizada na
Guinness Foeign Extra Stout (FES). Esta, era
uma versão mais forte e
com mais
lúpulo da clássica Guinness Extra Stout, assim produzida para suportar as longas
viagens até às antigas colónias britânicas. De facto, a FES ainda existe
produzida localmente em muitas dessas antigas províncias inglesas como sejam a
Jamaica, o Sri Lanka ou a Nigéria. São produtos de boa qualidade, similares à
original, mas que apresentam já algumas características inerentes ao próprio
local onde são produzidas. As Foreign Stouts encontram-se a meio caminho entre
as Stouts normais e as Imperial Stouts. São mais doces que uma Stout mas menos
robustas e complexas que uma Imperial. O volume de álcool pode variar entre os 6
e os 8% ABV. Também podem ser designadas por Export Stout. A experimentar:
Guinness Foreign Extra Stout;
De Dolle Extra Export Stout;
Lion Stout.

German Hefeweizen - É um estilo de cerveja de trigo (wheat beer ou weissbier)
oriundo do sul da Alemanha, com forte presença de frutos no aroma e sabor,
nomeadamente banana e maça. O volume alcóolico anda
por volta dos 5 a 7%, sendo
que as Hefeweizen são bastante refrescantes apesar de não muito ácidas. O
prefixo "Hefe" significa algo similar a "com fermento" pelo que estas cervejas
se apresentam, em geral, opacas e não filtradas. Se servidas num tradicional
copo de Weizen, as Hefe produzem abundante espuma e ficam com excelente
aparência. Relativamente a este tipo de cerveja há que ter um aspecto em
atenção. É habitual servirem-nas com uma rodela de limão, seja isso para cortar
o sabor do trigo ou do fermento. Recuse uma cerveja servida desse modo, pois o
limão apenas altera o sabor desta, para além de dificultar a formação de espuma.
As Hefeweizen não são propriamente 7 Up's! A experimentar:
Franziskaner Hefe-Weissbier;
Paulaner Hefeweissbier;
Weihenstephaner Hefe Weissbier.

German Kristallweizen - A Kristallweizen é, muito simplesmente, uma
Hefeweizen
filtrada. Isso faz com que seja uma cerveja clara e límpida, com cores que vão
desde o amarelo-claro até ao âmbar-claro. Por vezes, e de modo depreciativo, são
conhecidas como as "Hefeweizen castradas". Não partilho dessa opinião apesar de
muitos exemplares que podemos encontrar no mercado terem uma certa falta de
personalidade. Para além disso, são ligeiramente mais suaves do que as Hefe, com
sabor e aroma mais atenuados. Acompanham bem saladas e pratos vegetarianos. A
experimentar:
Tucher
Kristall Weizen;
Allgauer Furstabt Kristallweizen;
Weihenstephaner Kristallweissbier.

Ice Beer - A
elaboração da Ice Beer implica baixar a temperatura da cerveja até que se
comecem a formar cristais de gelo. Posteriormente, o líquido é filtrado e, como
a água congela antes do álcool, o resultado é
uma bebida com maior
teor
alcoólico. Como o gelo também se forma à volta das células do fermento e das
partículas de proteínas, estas ficam igualmente retidas na filtragem sobrando,
no fundo, uma cerveja com menos componentes mas, teoricamente, com mais sabor e
volume alcoólico. Este processo não é novo na indústria cervejeira já que as
Eisbocks são elaboradas segundo um método semelhante. Contudo, esta corrente
moderna de produção e consumo de cervejas Ice foi iniciada pela Labatt, empresa
que serviu de exemplo para muitas outras cervejeiras, especialmente
norte-americanas. A grande diferença entre uma Eisbock e uma Ice Beer reside no
carácter de cada estilo. O problema duma Ice Beer é que nunca será melhor do que
a cerveja que lhe deu origem e, infelizmente, as cervejas que são utilizadas
para isso nunca são de grande qualidade. Pelo contrário, as Eisbock têm origem
em cervejas de qualidade e de forte carácter, pelo que o resultado final
continua a ser bastante bom. A experimentar:
Labatt
Ice;
Genny Ice Beer;
Carlsberg Ice.

Imperial Stout -
Também conhecidas por Russian Imperial Stouts, estas
cervejas são consideradas unanimemente
como as rainhas das Stouts. A
origem do
nome remonta à época em que as cervejeiras inglesas elaboravam produtos de forte
carácter, com intenso sabor a malte torrado e a lúpulo, destinadas aos países
bálticos e à Rússia, onde eram muito apreciadas pela Corte Imperial. Para
suportar as viagens, essas bebidas possuíam igualmente um elevado teor de
álcool, com percentagens que variavam - e variam - entre os 8 e os 12% ABV. Como
características apresentam pouco gás, forte sabor a chocolate e a malte torrado,
cor muito escura e grande complexidade. Uma boa Imperial Stout é uma excelente
companhia para um prato de queijo, chocolate negro ou melão. Apesar de poder
alterar o aroma e sabor da cerveja, pode também experimentá-la com uma boa
cigarrilha ou charuto. A experimentar:
Three Floyds Dark Lord Russian Imperial Stout;
Victory Storm King Imperial Stout;
Stone
Imperial Russian Stout.

Low Alcohol - As
cervejas sem álcool ou de baixo teor alcoólico são uma novidade algo recente no
mercado das bebidas, mas com tendência a crescerem em termos de vendas devido às
restrições ao consumo de
álcool quando se conduz. Na maior parte dos casos, o
termo sem álcool não se deveria utilizar pois a maior parte destas cervejas têm
uma determinada quantidade alcoólica, apesar da mesma poder ser residual. A
obtenção deste estilo pode ser feita de duas maneiras: através de um processo de
fermentação e elaboração muito cuidado, onde se evita a formação de álcool ou
então utiliza-se um sistema de extracção do álcool da bebida, fazendo esta
passar por uma membrana permeável especial. São, no seu global, cervejas muito
leves em aroma, sabor e corpo. A característica que as reúne sobre a mesma
denominação é o facto de terem menos de 3% ABV. A experimentar:
Bitburger Light;
Jansen Preta Sem Álcool;
Cheers Sem Álcool.

Porter -
Muitas vezes confundidas com Stouts, as Porters têm uma
personalidade única e muito vincada. De facto, este estilo bastante antigo vem
já referido num documento do século XVIII, onde se dizia que
as Porters eram o
resultado da mistura de três tipos de cerveja: uma Old Ale, uma New Ale e uma
Weak One (Mild Ale). Desta combinação resultaria uma bebida a que os ingleses
chamavam de "Entire Butt" ou "Three Threads", que tinha como objectivo agradar a
um vasto público, grande parte dele constituído por trabalhadores das inúmeras
indústrias surgidas após a Revolução Industrial. Apesar do expressivo sucesso
que conheceu nessa altura, no início do século XX era quase um estilo em vias de
extinção, muito ultrapassado, em termos de consumo, pelas Stouts. O seu regresso
só se deu durante os anos 70 e 80 do século passado, altura em que houve um
grande surgimento de pequenas industrias produtoras de cerveja artesanal,
nomeadamente nos EUA. De cor escura e bastante maltadas, podem possuir um
carácter algo doce, mesmo que não muito acentuado. A experimentar:
Fuller's London Porter;
Samuel Smith's Famous Taddy Porter;
Meantime London Porter.

Roggenbier/German Rye Beer - Esta cerveja especial, originária da
cidade alemã de
Regensburg, na Baviera, é uma variante de luxo das Dunkelweizen que, em vez de
utilizar trigo como estas, utiliza malte de centeio, o que as torna distintas e
muito saborosas. A aparência vai da cor de cobre até ao castanho e a espuma
costuma ser volumosa e algo duradoura. Relativamente ao álcool, não é muito
pronunciado, variando entre os 4,5 e os 6% ABV. A característica que mais se
salienta neste tipo de cervejas é mesmo o seu sabor a centeio, sendo que por
vezes pode parecer que estamos a beber pão liquido! A experimentar:
Paulaner Roggen;
Burgerbrau Wolnzacher Roggenbier;
Schremser Roggenbier.

Stout - Muitas Stouts não se encaixam na definição clássica deste
estilo, representada basicamente pelas Irish Stouts e pela mundialmente famosa
Guinness. A diferença poderá estar na cor, quantidade de lúpulo ou malte. No
entanto, tais alterações não são suficientes para essas que essas cervejas sejam
englobadas nas Dry ou nas Imperial. São, na sua essência, simples Stouts. De cor
castanho-escuro a preto, sabor a café, chocolate ou cereais torrados, álcool
entre os 4 e os 7% ABV e um corpo não muito complexo, são um excelente
substituto para aqueles dias em que não lhe está a apetecer beber a tradicional
imperial. A experimentar:
Freeminer Deep Shaft Stout;
Titanic Stout;
Super Bock
Stout.

Trappiste - As
cervejas trapistas não são propriamente um estilo, já que podem ser englobadas
nas Abbey Dubbel ou Abbey Tripel ou mesmo nas Quadrupel, conforme a marca e o exemplar que estejamos a
degustar. No entanto, sendo este o meu estilo preferido e dadas as limitações
impostas a uma cerveja para que possa utilizar o selo trapista, decidi
separá-las para ter um pouco mais de espaço para falar delas. As ordens
trapistas tiveram origem no mosteiro cisterciense de La Trappe, França. A sua
influência alargou-se a muitos outros países europeus, tendo posteriormente
surgido novos mosteiros que seguiam as restritas regras desta ordem religiosa.
Em 1997, oito abadias trapistas - 6 da Bélgica (Orval, Chimay, Westvleteren,
Rochefort, Westmalle e Achel), 1 da Holanda (Koningshoeven) e 1 da Alemanha (Mariawald)
- fundaram a ITA (International Trappist Association), com o propósito de
definir as regras do estilo e proteger o nome do uso abusivo por parte de outras
marcas. Para isso, esta associação criou um selo que só pode ser utilizado pelos
produtos que seguem os critérios estabelecidos e que sejam elaborados por monges
trapistas, sejam esses produtos queijos, cervejas ou vinhos. Não me querendo
alongar muito mais, já que o objectivo deste espaço não é explicar todos os
aspectos de todos os estilos de cerveja mas apenas fazer uma breve introdução as
características que os permitem diferenciar, deixo aqui este
link que explica sucintamente este estilo, as sua origens e história
recente. A experimentar:
Orval;
Chimay
Blue;
Westvleteren Abt 12;
Westmalle Tripel;
Achel 8 Blond;
Rochefort Trappistes 10.

Weizenbock -
Basicamente, é uma Dunkel Weizen mais forte (em teoria,
tão forte como uma Bock), com boa
presença de álcool e especiarias e,
logicamente, maior sabor a malte, factor que contribui para a sua cor
escura. A
sua origem remonta à cervejeira alemã Schneider & Sohn que, em 1907, criou uma
doppelbock de trigo mais forte e saborosa, a Schneider Aventinus. Esta excelente
cerveja, ainda disponível nos dias que correm, possui todas as características
que formatam este estilo, sendo por isso o farol de referência para todas as
outras Weizenbock. Relativamente aos ingredientes, utiliza-se uma grande
percentagem de trigo maltado (segundo a lei alemã, tal cereal deverá
corresponder a 50% do total, apesar de, em certas marcas, tal chegar aos 70%). O
restante é composto por malte de cevada. O volume de álcool varia entre os 6,5 e
os 8%. A experimentar:
Schneider Aventinus;
Hacker-Pschorr Weiss Bock;
Erdinger Pikantus.

Cervejas Excêntricas
O que acha de cervejas a saber a vinagre ou a framboesa? E
que tal cervejas que apenas são produzidas no Natal ou em Outubro, difíceis de
encontrar em qualquer outra época do ano? E estilos quase em vias de extinção,
apenas com três ou quatro marcas ainda disponíveis? Muitos outros exeplos existiriam para
lhe explicarmos o porquê de considerarmos os tipos de cerveja abaixo listados
como excêntricas. Não nos alongaremos muito nesta introdução pois a descrição de
cada um dos estilos será suficiente para se aperceber das características muito
espécificas de cada um deles. O único conselho que lhe deixamos é o de manter o
espírito aberto ao experimentar qualquer um destes estilos. Poderá vir a beber
cervejas com sabor a cereja, hortelã-pimenta ou até chocolate!
Barley
Wine -
Apesar do nome, a
Barley Wine é uma autêntica cerveja, forte e intensa. De facto, faz parte dos
estilos de cerveja mais fortes. Viva e frutada, por vezes doce, por vezes ácida,
é, no entanto, sempre
altamente alcoólica. Uma cerveja com esta força e
complexidade pode ser um desafio para o palato. A sua cor varia entre o âmbar e
o castanho escuro, sendo que os aromas vão desde o frutado até ao carácter
acentuado do lúpulo. É uma cerveja espessa, onde o álcool é facilmente
perceptível, apesar dos sabores a fruta, resina ou lúpulo que o acompanham.
Apresenta um volume alcoólico entre 7% e 12%. As variedades inglesas de Barley
Wine são bem diferentes das americanas, já que estas últimas costumam ter um
sabor mais marcado a lúpulo (por vezes em demasia!), sendo que as inglesas
apresentam um melhor equilíbrio entre malte e lúpulo. A maior parte das Barley
Wine podem ser conservadas e envelhecidas, como se de um bom vinho se tratassem.
A experimentar:
AleSmith Barrel Aged Old Numbskull;
Victory Old Horizontal;
Dogfish
Head Olde School Barleywine.

Bière de Garde -
Bière de Garde, ou cerveja para guardar, é um estilo
pouco comum, sendo que em Portugal é mesmo inexistente. A sua cor varia entre o
amarelo dourado e o castanho-claro, possuindo um aroma maltado e um sabor
ligeiramente doce e caramelizado também devido ao malte, com alguns exemplares a
apresentarem alguma acidez devido à presença do lúpulo. A presença do álcool é
evidente, havendo a possibilidade de se encontrar alguns sabores a fruta. O
volume alcoólico varia entre 6% e 8% e é uma cerveja que melhora com a idade. A
experimentar:
Southampton Bière de Garde (French Country Christmas Ale);
Jolly Pumpkin Bière de Mars;
Dupont La Bière de Beloeil.

Bitter -
As Bitter surgiram como uma reacção das cervejeiras à
proliferação de produtos sem personalidade e meramente comerciais. Na sua
maioria, possuem uma cor que pode ir do amarelo-dourado até ao âmbar, pouco gás
e um forte sabor azedo. Curiosamente, esta última característica não lhe é
transmitida pelo lúpulo, que não é muito intenso neste tipo de cervejas. O aroma
é algo frutado, bem como o sabor, sendo que o volume de alcool costuma ser baixo
(entre 3% e 5%) e pouco perceptível. São excelentes para acompanhar bifes e
marisco. A experimentar:
Oakham Raucous Reindeer;
Dark Star Golden Gate;
Coniston Bluebird Bitter.

Black & Tan - Este termo aplica-se a produtos em que a cervejeira
misturou, antes do engarrafamento, uma ale escura com uma ale mais clara ou
mesmo com uma lager, algo que aqui em Portugal se designa por uma mista. Por
esta breve explicação nos apercebemos que não se trata de um estilo clássico ou
convencional. Foi, antes sim, o fruto da busca incessante das cervejeiras por
criar produtos modernos e que estejam de acordo com as novas tendências,
verificadas nos cafés e bares onde é habitual as pessoas pedirem para misturar
uma cerveja clara com uma cerveja mais escura. A experimentar:
Saranac Black & Tan;
Mississippi Mud Black & Tan;
Berkshire Shabadoo Black and Tan.


Cider -
Não sendo propriamente uma cerveja, fazemos aqui
referência à
Sidra por ter um processo de produção
muito semelhante. Feita de
sumo de maçã fermentado, o seu sabor e aparência variam muito, consoante o local
onde são produzidas. As Sidras inglesas são secas, frutadas e possuem pouco gás,
enquanto as que são elaboradas na Normandia são mais doces e efervescentes. Os
Estados Unidos e o Canadá são também dois países onde existe uma boa produção
deste tipo de bebida. Infelizmente, é relativamente fácil elaborar bebidas
parecidas com sidra, mas que pouco ou nada têm a ver com estas, já que possuem
muito açucar e aromas falsos. A experimentar:
La
Face Cachée de la Pomme Frimas Ice Cider;
Cidre Dupont Réserve;
Rubis de Glace.

Flemish Sour Ale -
Este é um estilo muito peculiar pelo qual, confesso, não
nutro grande simpatia. Não quer isto dizer que as Flemish Sour Ale
não sejam
cervejas de qualidade. Muito pelo contrário: é habitual encontrá-las
extremamente bem classificadas em livros e sites que se dedicam à avaliação de
cervejas. Todavia, o seu sabor ácido e, em geral, avinagrado, está bem longe do
sabor que eu espero encontrar numa cerveja que considero boa. Apesar de tudo,
acredito que com o tempo se possa aprender a gostar deste estilo. Podem variar
entre o vermelho e o castanho, com álcool entre os 4% e os 8%, sendo que o seu
forte sabor a vinagre e fruta lhes é conferido por um fermento especial. São
cervejas bastante complexas, produzidas segundo métodos muito antigos, estagiam
algum tempo em cascos de carvalho e o resultado final é, habitualmente, o
resultado da mistura de cervejas novas com outras mais antigas. A experimentar:
Panil
Barriquée;
Rodenbach Grand Cru;
Liefmans Goudenband.

Fruit Beer - Esta designação aplica-se quer a ales, quer a lagers,
desde
que sejam feitas a partir de fruta. A cor, aroma, sabor e outras
características variam muito, pois dependem da fruta que é utilizada na sua
confecção. Que me recorde, já bebi Fruit Beers de ameixa, maracujá, cereja,
framboesa, entre muitas outras. Em comum, têm o facto de serem cervejas com
baixo volume alcoólico e que devem ser servidas muito frias (e preferencialmente
no Verão), já que têm tendência de se tornarem algo doces. A experimentar:
New Glarus Belgian Red;
Chapeau
Mirabelle;
Floris
Ninkeberry.





Lambic-Fruit -
Na maior parte das vezes apenas designada por Lambic (sem
o fruit), este tipo de cerveja é muito peculiar, não só pelo processo de
fabrico, como pelo facto de ser um dos estilos mais antigos e mais complexos
ainda hoje em produção. De facto, à cerveja inicial são adicionadas frutas
inteiras depois da fermentação espontânea ter
começado. A fermentação é feita
por fermentos e microorganismos que se encontram nas caves onde estas cervejas
são produzidas, sendo que as fábricas se encontram, maioritariamente, na região
à volta de Bruxelas. Conta-se que as caves que albergam Lambics nunca são
limpas, para não alterar o equilíbrio dos bolores, tão essenciais ao processo de
desenvolvimento da cerveja. Posteriormente ao início do processo de fermentação,
as Lambics são envelhecidas em barris de madeira por períodos que vão de um ano
até três. Quanto à fruta utilizada, as mais comuns são as Kriek (cerejas),
Framboise (framboesas), Pêche (pêssego) e Cassis (groselhas pretas), apesar de,
actualmente, existirem muitas novas marcas que utilizam frutos exóticos.
Relativamente ao sabor, o destaque vai, obviamente, para a fruta, notando-se
pouco o sabor do malte ou do lúpulo. O nível de álcool também é baixo, não
ultrapassando, em geral, os 5%. As Lambics feitas pelo método tradicional são
designadas por "Oud", sendo mais ácidas do que as Lambics mais novas, mais
viradas para as vendas e por isso mais doces e balanceadas. A experimentar:
Cantillon Lou Pepe Pure Kriek;
Drie
Fonteinen Schaerbeekse Kriek;
Girardin Framboise.

Lambic-Gueuze - A Gueuze é uma lambic tradicional, feita a partir da
mistura de lambics novas com velhas e sem a
adição de fruta. As lambic
mais
velhas têm um carácter refinado, o que ajuda a retirar alguma aspereza às
lambics novas, assegurando também que não se irá sentir nenhum sabor indesejado,
fruto da fermentação expontânea característica deste estilo. Na sua maioria são
filtradas e algumas chegam a ser pasteurizadas. Após o engarrafamento, podem
passar por um períodode envelhecimento que, em algumas marcas, chega atá aos 3
anos. Acima de tudo, as Gueuze são estruturalmente muito complexas, secas e
únicas, podendo os melhores exemplos deste estilo ombrear com um bom champanhe
sem qualquer tipo de vergonha! A experimentar:
Oud Beersel Oude Geuze;
Drie
Fonteinen Oude Geuze;
Cantillon Goldackerl Gueuze.

Lambic-Unblended - Podemos considerar as Unblended como as Lambic no seu
estado mais puro. Raramente comercializadas, a sua degustação
só é possível
junto dos produtores de Lambics, que realizam provas de cervejas e visitas
guiadas às suas explorações. Um dos poucos casos que conheço de uma Unblended
que é comercializada vem da firma Cantillon e que excelente exemplar este é: a
Cantillon 1900 Bruocsella Grand Cru. As Unblended são muito susceptíveis e as
suas características podem variar de barril para barril, mesmo que estejam lado
a lado! Também são envelhecidas, por forma a reduzir a sua natural acidez e há
produtores que gostam de lhe misturar frutos para as tornarem mais acessíveis ao
gosto comum. Têm sabores próximos das cidras e do vinho branco, sendo quase nula
a presença de lúpulo. Podem variar entre 3% e 6% ABV. A experimentar:
Cantillon Jonge Lambic Cognac;
Iron Hill Lambic;
De Cam Oude Lambiek.


Oktoberfest/Marzen - Antes da refrigeração artidficial, era quase impossível
produzir cerveja no Verão, devido às altas temperaturas e às infecções
bacterianas que deturpavam as cervejas. Desse modo, a
produção acabava na
Primavera e só recomeçava no início do Outono, pelo que Março (Marzen) era um
mês de grande importância. Estas cervejas eram produzidas de modo a que
aguentassem o calor do Verão sem perder as suas qualidades, sendo que para isso
eram armazenadas em locais secos e frios. Em termos de aspecto, têm cores que
variam do âmbar até ao acobreado, enquanto que o aroma e o sabor revelam
forte presença de malte, o que lhes dá uma característica doçura. A presença do
sabor do lúpulo é pequena, pelo que não se trata de uma cerveja com tendências
muito azedas. O álcool varia entre os 4% e os 7%. O nome Oktoberfest refere-se à
grande festa da cerveja que tem lugar todos os anos em Munique e onde a cerveja
rainha é a Marzenbier. A experimentar:
Paulaner Oktoberfest Marzen;
Alley Kat Ein Prosit!;
Burgerbrau Wolnzacher Oktoberfest-Bier.

Premium Bitter -
As Premium Bitter, também conhecidas por ESB (Extra
Strong/Special Bitter) tiveram origem na grande concorrência que havia neste
sector das cervejas, facto que levou ao desenvolvimento de exemplares cada vez
mais fortes, quer em sabor, quer em volume alcoólico, chegando a atingir os 7%
ABV - Average alcohol by volume. Possuem cor dourada a acobreada, pouco gás e
sabor intenso a malte torrado, podendo-se também notar a presença de frutas. A
designação ESB é mais utilizada nos EUA, devido à influência da Fuller's ESB,
uma das primeiras cervejas a ser exportada para este país. A experimentar:
Shlafly Winter ESB;
Fullers ESB;
Wells Bombardier.

Pumpkin Ale -
Muitas vezes lançadas como bebida outonal, as Pumpkin Ale
(Ale de abóbora) podem ser muito variadas. Há produtores que optam
por adicionar
pedaços de abóbora à mistura, enquanto outros usam puré ou simplesmente aromas.
É também usual utilizar outros sabores para condimentar estas cervejas:
gengibre, cravo-da-Índia, canela, entre outras especiarias. São cervejas de
difícil produção e que podem levar um mestre-cervejeiro à loucura. É claro que
existe aqui um pouco de exagero mas é comum contarem-se histórias de produtores
que andaram à procura de uma receita de qualidade durantes largos anos, ao fim
dos quais não tinham obtido qualquer sucesso. Os resultados são, em geral, algo
doces e com um elevado teor alcoólico. A minha experiência mais recente foi a 'T
Smisje Halloween, uma cerveja com 9% ABV, algo doce mas extremamente agradável.
A experimentar:
Great
Pumpkin Ale;
Smuttynose Pumpkin Ale;
Post Road Pumpkin Ale.


Saison -
Típica cerveja caseira, as Saison eram produtos elaborados
no
Inverno para consumo no Verão, dadas as dificuldades de refrigeração já aqui
faladas. Sendo um estilo complexo, não muito ao gosto comercial, tem vindo a
sofrer de algum esquecimento, com o fecho de pequenas explorações que se
dedicavam à sua produção. Possuem aroma e sabor frutado (habitualmente de
citrinos), sendo que a adição de várias especiarias e ervas lhe dá um carácter
meio-seco e ligeiramente ácido. Muito frescas e com bastante gás, acompanham bem
refeições condimentadas, queijos e carnes em geral. A experimentar:
Southampton Saison;
Fantôme
Saison;
Saison Dupont Vieille Provision.

Spice/Herb/Vegetable -
Neste grupo podemos incluir qualquer lager ou
ale
produzidas a partir de ervas, especiarias
ou vegetais, sendo que o sabor
adicionado costuma ser bem perceptível quer no aroma, quer no sabor. A grande
diversidade de ingredientes que podem ser utilizados faz com que a cor, aroma,
sabor, textura e volume alcoólico variem substancialmente de marca para marca.
De facto, há indústrias cervejeiras que na ânsia de inovar, são capazes de
atirar qualquer coisa para dentro da mistura, desde gengibre a abóbora, passando
por canela, nozes e pimenta. É um estilo de cerveja jovem e fresco, não
aconselhado para aqueles que acham que cerveja tem de ser "loura e estupidamente
fresca". A experimentar:
Baladin Nora;
Traquair Jacobite Ale;
Craftsman Triple White Sage.


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